COMO REDUZIR EM 75% O CUSTO DE INFORMAÇÕES SOBRE INADIMPLÊNCIA

METODOLOGIA DISRUPTIVA NA ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO

Fonte:  Linkedin – Dr. Gilberto Luiz do Amaral

Mesmo com a racionalização dos serviços e custos dos tradicionais “bureaux” de crédito do Brasil, como Boa Vista, Serasa e SPC Brasil, o certo é que continua muito cara a obtenção de informações para subsidiar a análise e concessão de crédito de pessoas jurídicas.

Apesar da aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), da “joint venture” [união de empresas] entre Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica, Itaú e Santander para a criação de “bureau” de crédito, não se vislumbra para os usuários uma diminuição de custos no fornecimento de serviços sobre informações de adimplência e inadimplência de pessoas físicas ou jurídicas para fins de decisão sobre concessão de crédito.

Desde 2011 trabalhamos no IBPT/Empresômetro com um Laboratório de Inteligência de Negócios, onde transformamos dados fiscais e tributários em informações estratégicas. Posteriormente cruzamos as informações, fazemos análises e os resultados aplicamos em empresas dos vários setores da economia, gerando conhecimento de mercado dos múltiplos ramos de atividade. Este conjunto de conhecimentos denominamos Inteligência de Negócios.

Como na sociologia, o pesquisador de negócios tem o olhar sobre as suas próprias experiências, sobre a dos indivíduos ao seu redor e demais atores que constituem a sociedade, ou seja, olhando o todo como um integrante da cadeia de “nec otius”(negócios).

A ideia para criar o projeto disruptivo de análise e concessão de crédito surgiu a partir da minha experiência de mais de 20 anos em escritório de contabilidade, onde aprendi a observar a capacidade de alguns empreendedores de realizar ótimos negócios. Comecei muito cedo, aos 11 anos de idade, como “office-boy” (contínuo) do escritório de meu pai. Passei por todos os departamentos até, após me graduar em Ciências Contábeis, chegar a sócio. Passados alguns anos, também me formei em direito e decidi me aperfeiçoar como tributarista, desligando-me do empreendimento contábil.

Os custos dos serviços de informações creditícias sempre foram muito caros e me recordo o quanto os clientes de então reclamavam das elevadas faturas, principalmente nos tempos de crise. Hoje não é diferente.

Observando o comportamento de adimplência e inadimplência dos clientes notei que as empresas que sempre mantinham certidões negativas de tributos eram as que menos tinham dívidas em atraso. Isto porque os empresários tem a sua própria hierarquia de prioridades na quitação de compromissos: funcionários, fornecedores, bancos e por último o governo. Se a empresa tem certidões negativas em vigor e as mantem ao longo do tempo, dificilmente terá dívidas inadimplidas.

Por consequência, resolvi testar o meu “feeling” em situações reais. Em 2009 separei 95 CNPJs de empresas que eu sabia que tinham certidões vigentes de tributos federais, estaduais e municipais e cruzei com a base de dados do Serasa. O resultado, apesar de esperado, foi surpreendente: 89 empresas da amostra, ou 93,68%, tinham um “rating” bom/ótimo, ou seja não tinham nenhum compromisso inadimplido que constasse no relatório daquele “bureau”.

O resultado poderia apresentar um vício, pois eu conhecia as empresas da amostra. Resolvi ampliar a amostra para 950 empresas, adotando o critério de multiplicar por 10 a amostra anterior, em cada fase do projeto. Também não poderia utilizar empresas conhecidas e inclui outros ramos de atividade

Enquanto a primeira fase da pesquisa durou menos de 90 dias e foi concluída ainda em 2009, a segunda fase, pelos seus custos e necessidade de ter colaboradores, só pode ser iniciada em 2011, quando levei para o IBPT o projeto e criamos o Laboratório, inicialmente denominado de Informações Estratégicas, aproveitando a bem-sucedida experiência do nosso Observatório de Governança Tributária. Neste mesmo ano, criamos o projeto Empresômetro, como um Censo das Empresas e Entidades Brasileiras, feito a partir do acompanhamento dos CNPJs emitidos pela Receita Federal do Brasil.

Com a entrada em vigor da Lei de Acesso a Informação (Lei nº 12.527/2011), pudemos ampliar a captura e análise de dados fiscais e tributários das empresas brasileiras, podendo também verificar de forma automatizada a emissão de certidões negativas de tributos, inclusive as do passado. Concluímos em 2012 a segunda fase da pesquisa, totalmente com recursos próprios, a qual apresentou o seguinte resultado: 864 empresas (90,95%) tinham bom/ótimo “rating” na Boa Vista e 849 empresas (89,37%) tinham o mesmo índice no Serasa. Detectamos um fato que poderia ter contaminado a amostra e consequentemente o resultado: havia 273 empresas que participavam seguidamente de licitações e como é condição para participar de certame licitatório a apresentação de certidões negativas de tributos, isto poderia se constituir num desvio padrão.

Como a terceira fase da pesquisa envolveria 9.500 empresas que não participassem de licitações, tentamos parceria tanto com a Boa Vista, quanto com o Serasa, de forma a que tivéssemos um custo mais acessível, propondo fornecer informações como contrapartida. Infelizmente, a burocracia não é somente estatal e a medrosa tecnocracia privada impede avanços em projetos inovadores, sendo que os “feudos” internos são os responsáveis por onerar demasiadamente o usuário dos serviços de informações creditícias.

Desta forma, iniciamos a terceira fase em 2013 e a concluímos em 2014, mas tivemos que dividir a amostra em duas partes de 4.250 empresas, uma para cruzar com a base do Serasa e a outra com a da Boa Vista. Tivemos o apoio de 11 empresas (3 indústrias e 8 atacadistas).  Os resultados também foram empolgantes: 88,33% (3.754 empresas) de assertividade em relação ao banco de dados da Boa Vista e 91,60% (3.893 empresas) de assertividade em relação ao banco de dados do Serasa.

Em 2015 começamos a quarta fase da pesquisa, com 95.000 empresas diferentes das amostras anteriores e de outros ramos de atividades (CNAES), mas que mantem permanentemente certidões negativas de tributos federais, estaduais e municipais. Para a viabilização desta fase, contamos com o apoio de 22 empresas (7 indústrias e 15 atacadistas) que atualizam constantemente a sua base de informações, com consultas junto ao Serasa e à Boa Vista e que nos cederam as suas bases. Cruzamos as informações de 57.178 CNPJs com a base do Serasa e 37.822 com a base da Boa Vista. Analisamos em 3 oportunidades cada CNPJ: segundo semestre de 2015, primeiro de 2016 e segundo semestre de 2016. Desta forma, conseguimos findar em março de 2017 esta etapa, com os seguintes resultados: assertividade de 94,14% em relação ao rating bom/ótimo do Serasa e 92,49% de assertividade em relação ao rating bom/ótimo da Boa Vista.

Em conclusão: não é necessário consultar sistematicamente os cadastros de inadimplentes de empresas que mantenham regularmente suas certidões negativas de tributos federais, estaduais e municipais. São mais de 3 milhões de CNPJs que estão nesta situação. E o melhor, para consultar as certidões negativas de tributos não é necessário pagar nada. Isto reduzirá em até 75% os custos de consulta em cadastros de inadimplentes. Adiante, comentarei como se utilizar da mesma metodologia em empresas que não tem as certidões negativas regulares.

Gilberto Luiz do Amaral, advogado, contador e especialista em tributação e inteligência de negócios. É sócio da Amaral, Yazbek Advogados e presidente do Conselho Superior e Coordenador de Estudos do IBPT – Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (gilberto.amaral@ibpt.org.br). 

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Sobre o IBPT

Os estudos do IBPT são referências no mercado e visam identificar a carga tributária dos diversos setores da economia brasileira ou de uma empresa, especificamente. Eles fornecem um diagnóstico da tributação que incide sobre determinadas atividades, com dados suficientes para implementar uma gestão tributária e aumentar a competitividade. Realizamos pesquisas corporativas e de setores específicos para reduzir o peso dos tributos por meio de uma gestão tributária eficiente.

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