Com isso, o Brasil se posicionou entre os seis maiores mercados farmacêuticos mundiais
Fonte: Valor Econômico
Nos últimos anos, o mercado brasileiro de medicamentos tem apresentado expressivo crescimento na esteira da melhoria da renda da população, do maior acesso a tratamentos médicos, da expansão dos usuários de planos e seguros privados de saúde e do crescimento vegetativo da população. Com isso, o Brasil se posicionou entre os seis maiores mercados farmacêuticos mundiais, com a movimentação de R$ 125,1 bilhões no ano passado, e deve galgar mais uma ou duas posições até 2018, segundo dados de um estudo inédito do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), que passará a acompanhar a evolução trimestral do setor.
Para 2015, a expectativa é a de que o valor das vendas de medicamentos no país, considerando-se os três canais de comercialização – os próprios laboratórios, distribuidores e varejo farmacêutico – mais as exportações, alcance R$ 132,15 bilhões, com alta de 5,7% em termos nominais e queda real superior a 2%, já reflexo da crise econômica e do contingenciamento de recursos públicos que afeta também a área de saúde. Desse valor, R$ 50,18 bilhões devem ser gerados em vendas diretas dos laboratórios, R$ 27,79 bilhões por meio de distribuidores e R$ 54,18 bilhões pelas redes de drogarias.
No primeiro semestre, de acordo com presidente do conselho superior do IBPT e coordenador de estudos, Gilberto Luiz do Amaral, a restrição orçamentária se refletiu em queda de 10% nas licitações de medicamentos no país e de 17% nos pagamentos, o que afeta o interesse dos laboratórios de participar de novas concorrências.
O levantamento mostra que, no ano passado, o mercado público de medicamentos, nas três esferas de governo, movimentou R$ 11,58 bilhões, dos quais 63,39% em compras do governo federal, 30,31% em aquisições públicas dos Estados e 6,3%, dos municípios. Essas compras são firmadas diretamente com os laboratórios ou através de distribuidores e varejistas.
Programas do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais representaram 89,17% de toda a compra governamental de remédios. Os 10,83% remanescentes foram adquiridos por outros órgãos do poder executivo, legislativo e judiciário – a chamada “judicialização da saúde”, que não está contemplada no estudo, representa cerca de 5% do total das compras públicas em valor.
A tendência, porém, é a de que a participação das compras públicas no total de vendas de medicamentos cresça em 2015, justamente por causa do cenário de crise. “Nesses momentos, a população recorre mais aos programas do governo para não gastar com remédio”, disse Amaral ao Valor.
Já a indústria farmacêutica brasileira, conforme o estudo, faturou R$ 47,65 bilhões em 2014 considerando-se todos os canais de comercialização, inclusive exportações, e excluídos os descontos comerciais concedidos. Para 2015, o IBPT estima que o faturamento dos laboratórios atinja R$ 50,18 bilhões. A participação dos medicamentos genéricos, que vem contribuindo de forma significativa para o crescimento desse mercado, subiu de 17% das vendas das farmacêuticas em 2010 para 24% no ano passado.
“Essa é a primeira grande crise enfrentada pelos laboratórios após o ‘boom’ dos genéricos. Nesse ambiente de concorrência mais acirrada e grande variação da renda, os laboratórios terão importantes desafios pela frente”, comentou Amaral. Esse cenário, combinado à forte queda na lucratividade do mercado, que teve seu auge entre 2011 e 2012, deve alavancar uma nova rodada de aquisições. “Se compararmos 2015 com 2011, houve queda de cerca de 60% na lucratividade”, ressaltou.
As redes de farmácias e drogarias, por sua vez, faturaram R$ 50,83 bilhões somente com a venda de medicamentos no ano passado. Para 2015, a previsão é que as vendas do varejo farmacêutico alcancem R$ 54,18 bilhões. “As redes vêm ampliando os negócios, especialmente no Nordeste e Centro-Oeste, com abertura de novos pontos de venda”, aponta o estudo, que informa e existência de 103 mil farmácias e drogarias (matrizes e filiais) no país, conforme a base de dados do IBPT.
O estudo, elaborado ao longo dos três últimos anos, mostra, a partir dos dados do Ministério do Trabalho e Emprego, projetados para 2014 pelo IBPT, que o setor de medicamentos no Brasil empregava 596 mil trabalhadores, dos quais 14,6% nas empresas de fabricação de medicamentos para uso humano, 11,06% no comércio atacadistas de produtos farmacêuticos para uso humano e veterinário e 74,34% no varejo. Em termos de arrecadação de impostos, foram recolhidos aos cofres públicos R$ 10,7 bilhões entre tributos federais e estaduais que incidiram tanto sobre medicamentos quanto sobre as empresas do setor.
Com essa contribuição, o setor farmacêutico ficou entre os cinco maiores pagadores de impostos do país, atrás de automóveis, combustíveis, eletricidade e telecomunicações, considerando-se a relação entre faturamento real e recolhimento de tributos. “Ainda mais do que a tributação, a grande vilã da indústria é a burocracia. Os custos regulatórios são estratosféricos e os prazos muito longos”, avaliou o coordenador de estudos do IBPT.
Para 2016, segundo Amaral, a previsão é de que o mercado brasileiro de fármacos “não será melhor do que 2015”. “Vamos começar a ver recuperação no segundo semestre de 2017”, acrescentou.